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domingo, 8 de setembro de 2013

Filmes dobrados e uma pequena revolução

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Existe um método muito simples, rápido e eficaz para se avaliar o nível de educação e a qualidade do governo de uma região: Método de Dobragem Cinematográfica (um nome que inventei). O método funciona da seguinte forma:

1º: escolhe-se uma região, e dessa região escolhe-se três filmes para maiores de 12 anos que são exibidos no cinema ou na televisão;

2º: vê-se o idioma original de cada filme e compara-se com o idioma em que o filme está a ser transmitido nessa região.

Resultado e Conclusão: se dois desses três filmes forem dobrados para a língua materna dessa região, então pode-se concluir que tanto a educação como o governo dessa região são medíocres. Mas, pode acontecer de apenas um dos objetos sendo avaliados ser medíocre?  Sim e não. Porquê? Porque só uma educação medíocre pode originar um governo medíocre, e vice-versa, e existem regiões demasiado pobres para dobrar filmes.


                                                                              via: wikipedia
vermelho: dobragem generalizada; amarelo: voz sobreposta; azul: dobragem só para crianças

A questão é muito simples de se analisar: será que os habitantes dessa região são xenofóbicos e por isso não gostam de ouvir a língua estrangeira? Não. Se fossem xenofóbicos nem sequer assistiam o filme, a menos que esse fosse apenas um material educativo para fazer uma lavagem cerebral aos habitantes e mantê-los, assim, num estado de ódio constante em relação ao que é mostrado nesses filmes, que nem no famoso filme 1984.

Então porquê a dobragem? Existem duas razões principais: censura e cegueira. Ambas as razões tendem para o mesmo fim: controlo dos habitantes.

Censura. A censura se baseia em razões morais e políticas para controlar a expressão e, consequentemente, as informações que chegam até ao povo. Esse é um bom método que ajuda a controlar emocionalmente e psicologicamente o povo. Existem certas palavras que estão em associação direta com as emoções; exemplo: porra e merda – invocam raiva.

Cegueira. A curiosidade é o combustível que move uma população em direção à mudança, e na maior parte das vezes à evolução. Se um indivíduo não entende uma coisa ele busca meios de aprendê-lo. Um governo que dá a um indivíduo apenas as coisas que ele conhece, mantém-no em um estado latente impedindo seu progresso, mudança e possível evolução (que significa também autonomia/independência).

Mas, existem raras excepções onde a dobragem tem por objetivo promover a língua e conservar a cultura.

                                                        via: aqui
Nas célebres palavras de Gabriel O Pensador: "[...] o programado é você."

Portanto, ao não dar acesso à educação (mantendo a pessoa em estado de cegueira) e ao apresentar apenas aquilo que é suposto a pessoa saber (censura) o governo tem controlo sobre os habitantes podendo dessa forma fazer passar leis que violam por completo o direito dos habitantes, o qual os habitantes não sabem que possuem uma vez que não têm instrução para saber tal.

Mas, até pássaros que nascem em gaiolas pensam em voar no céu aberto, ainda mais quando a porta da gaiola está aberta. Da mesma forma, os habitantes têm a escolha de se libertarem desse controlo, de lutarem pela autonomia. Mas, o pássaro ignorante acha que essa vida que ele leva é boa porque ele não conhece mais nada. E o povo prefere assistir aos Óscares, Futebol, e Big Brother ao invés de Alfabetização à Distância, Prémio Nobel e Debates Sobre a Região.


Os poucos que tentam lutar contra a opressão são combatidos pelos próprios compatriotas, numa espécie de Patrulha do Bairro ao estilo America After 9/11: vizinhos espionando vizinhos. E assim uma pequena revolução é assassinada pela dobragem. 

sábado, 27 de abril de 2013

Heartwashing: Como a ficção modela as nossas emoções

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É possível que a certa altura tenhas sentido (ou sentirás) que as tuas emoções não correspondem, ou não estão à altura de, a um dado evento. Por exemplo, alguém que te é próximo morreu, mas não lamentas a morte desse alguém tanto quanto queres ou achas que devias. Talvez nesse momento uma pergunta te cruzasse a mente: O que há de errado comigo? Será que não tenho coração? 

Não se trata disso, o teu estado psíquico está em ordem, o problema é o próprio evento: ele não apresenta a maquilhagem necessária/indicada para sentires as emoções que achas que deverias sentir; a luz é demasiado intensa, a música não é melancólica, os figurantes não têm expressão, enfim, a cena não é cinematográfica.

Talvez já tenha acontecido de teres visto um filme no qual figuram esses elementos acima mencionados, inclusive falta a daquelas barras pretas no topo e no fundo da tela que dão o efeito 16:9 à película, e por isso não gostaste do filme, achaste-o antes uma filmagem amadora feita por pessoas normais, e portanto os teus sentimentos em relação a esse filme foram normais. Por outro lado, os filmes de drama dos grandes estúdios  têm o poder (monetário e estético) de fazer as pessoas chorarem.

                                                                                                 via: The Film Pilgrim
Cinema: "Esta é a parte em que é suposto chorares, que nem um bébé."


O que se passa é que a ficção – TV, cinema, radio, livros, etc., têm vindo a ensinar-nos como devemos sentir e como devemos nos comportar face a diferentes situações da vida. Por exemplo, é aconselhável fugir quando vemos uma pessoa com uma arma, mas os romances ensinam-nos que devemos ser heróis e arriscar a nossa vida; sendo que a diferença é que na ficção as coisas correm sempre bem, mas na vida real as coisas podem (e muitas vezes) ir de mal a pior. O mesmo se aplica às relações amorosas. 

Da mesma forma, a media manipula a maneira como os telespectadores vêm as guerras, a fome e as outras (grandes) tragédias que caem sobre a raça humana. É uma questão de editar os factos antes de servi-los numa bandeja prateada e decorada.  Portanto, se queremos tornar algo mais emotivo há que se acompanhar esse algo com uma música a condizer, por exemplo. 

                                                                                                        via: theguardian
TV: "Nesta imagem vê-se a guerra. 
Os cidadãos (aparentemente sem armas) são os inimigos." 

E isso é tão prático que até nas relações amorosas, onde os sentimentos são dos mais genuínos por causa da natureza pura e bruta das paixões, as pessoas esperam ver algo parecido com o que vêm nas comédias românticas. Daí que aparecem as desculpas: “Eu não senti o click.”. Se bem que esse click tem a ver (também) com o próprio organismo de cada indivíduo, mas isso é um assunto para outro post.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Média que odeia mulheres

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Quantos filmes, este ano, têm mulher como protagonista? Ok, vou facilitar: quantos filmes, você se lembra, que têm a mulher como protagonista? É difícil de lembrar, não é? Quase tão difícil quanto você tentar ver mentalmente a sua cara.

São raros os filmes, novelas e livros que figuram a mulher como personagem principal. Ao longo dos anos o cinema e a televisão têm-nos ensinado que a mulher é, no máximo, o troféu do herói no fim da sua jornada: você é homem, derrota os mauzões e recebe uma (linda) mulher como recompensa. E o filme acaba. E a mulher nem precisa falar (raramente tem alguma fala nos filmes, e quando tem essa normalmente é para encorajar ou agradecer o herói, ou conversar com outra mulher sobre o homem de quem gostam).

                                                                                                   via: Блог Джипси
"É melhor que eu receba a minha mulher depois disto ou 
vou chamar alguém de puta. Ou choro."

Curiosamente, apesar de o ocidente defender “fortemente” os direitos da mulher, esta ainda é geralmente vista como uma posse do homem, dona de casa obediente e figura frágil que deve ficar num canto e deixar o homem cuidar dela. Isso é irónico, uma vez que a mulher é mais forte que o homem. É; menstruações mensais, bebé na barriga durante 9 meses (12 para os mais preguiçosos), parto e a luta constante para estar ao nível do homem. Basicamente como nos países mais “acatados” do oriente.

Ao mesmo tempo a média ensina o homem a ser homem e, como tal, dono da mulher. “Derrote os mauzões, oferece-lhe flores, trate-a mal, etc. etc.” E a mensagem mais importante: homens e mulheres não podem ser amigos, nem iguais. Quantos filmes você já viu em que um homem e uma mulher têm uma conversa profunda sobre os problemas sociais, o sentido da vida ou ideias para tornar o mundo um lar melhor? Sem terem de beijar ou fazer sexo no fim da conversa?

                                                                                   modificado de: POYKPAC 
Instituição Correccional Para Nice Guys; e Fábrica de Jerks.

O nice guy é, na verdade, a hipocrisia e a materialização dos ideais ficções românticas, e o jerk  é a versão mais consciente do nice guy –as mulheres também pensam. Claro que existem filmes com mulher como protagonista, e em que essas não têm que recompensar um homem ficando com ele no fim do filme, mas são raros; assim como filmes em que homens e mulheres não têm necessariamente que ser só amantes. E é desses filmes que precisamos para mudar esta mentalidade que frusta tanto mulheres como homens e degenera a sociedade.



[Parcialmente baseado]

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Do 3º Mundo com amor

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Querido 1º Mundo,

Muito obrigado por me tentar ajudar a resolver os problemas que você causou.
Problemas como: colonização, fome e guerra.

Fico-lhe tão grato por se ter dado ao trabalho de sair da sua casa, que fica na outra metade do mundo, para me vir trazer à minha casa os modos do homem civilizado, uma vez que viver em tribos, caçar animais e fazer fogueiras com cantigas à noite, enfim a vida incivilizada, era uma vida demasiado horrível para mim.

As nossas riquezas já nos estavam mesmo a pesar. Obrigado.

Obrigado por me ter mostrado que só existe um Deus, a necessidade obrigatória de vestir roupa de acordo com a moda e a obrigatoriedade de passar 10 a 15 anos na escola a aprender coisas para eu poder me adaptar a este ambiente em constante mudança que você criou.

Mais uma vez muito obrigado.

Com os melhores cumprimentos,
3º Mundo