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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Obrigados a pedir



“Um pouco de atenção. Uma oportunidade. Apoio.”

É nestas frases que, muitas vezes, se traduzem os gestos ou simples palavras de pedido de ajuda que diariamente, por ruas e becos da nossa cidade são encenados por aqueles que não tiveram mesma sorte na vida que muitos de nós.

São, sobretudo, pessoas portadoras de alguma dificiência que viram suas vidas limitadas no que toca ao desempenho de algumas tarefas essenciais na vivência do dia-a-dia, na realização de determinados trabalhos. Quase sempre julgadas por uma sociedade onde a mentalidade e as condições são precárias, essas pessoas ficam de parte, por vezes até esquecidas, e assim são obrigadas a recorrer à vida de pedinte para sobreviver.

Euclides é uma delas. Jovem portador de deficiência, cedo se viu obrigado a pedir para poder sobreviver. Em bébé, aos oito meses, já se confrontava com o problema que ia mudar para sempre a sua vida: a poliomielite. Com a demora no tratamento e o alastramento da doença, viu-se de imediato privado de um bem muito importante no dia-a-dia de uma pessoa: os pês. Confrontado com problemas financeiros, cedo, aos dez anos, se viu “obrigado a ir para a rua pedir para ajudar a família”. Ele conta que “com a mãe desempregada e várias irmãs, houve vezes que passaram sem jantar. Algumas vezes passei dias fora de casa a pedir para trazer dinheiro para alimentar a família”.

Mas o drama da vida de Euclides não fica pelo problema financeiro. Uma vez teve de largar a Escola para trabalhar e ajudar a família. Mas o problema foi quando “tentei estudar no Liceu e não consegui por causa da minha situação”. Com a ajuda de uma alma de boa vontade agora estuda no Teto Zero o 12º ano.

Mas a maior dificuldade que enfrenta é mesmo “a sociedade”. A nossa sociedade tem ainda uma mentalidade mesquinha, assim "julgam pela aparência, por isso não consigo demostrar as minhas capacidades porque não me dão essa oportunidade”.

Um dos grandes erros das pessoas é pensarem que as esmolas significam, apenas, ajuda. Quando se dá esmolas muitas vezes está-se a invalidar cada vez mais a pessoa, porque ela fica viciada em apenas receber sem fazer qualquer esforço para o conseguir .

As dificuldades que um deficiente tem de enfrentar na vida não acabam com a indiferança e muito menos desaparecem com esmolas. Porquê não dar a vara e anzol e ensiná-los a pescar em vez de lhes dar peixe todos os dias? E se um dia não puderes mais? Ele diz que a rua “não é apenas um lugar onde ganho dinheiro para ajudar a família, é também o lugar onde vejo, aprendo e vivo na sociedade. Tenho lá amigos e são eles as pessoas com quem aprendo a ver o certo e o errado”.

Quanto aos planos para o futuro, ele diz: Quando acabar de estudar quero arranjar um emprego. Só não arranjo um agora porque quero ter tempo para estudar e assim dar valor ao que as pessoas estão fazendo por mim pagando meus estudos”. Mas o que Euclides quer mesmo “é fazer curso de arquitectura”.

Euclides é apenas um dos muitos jovens que se encontram espalhados pelas ruas da nossa cidade, uns com tristeza pela sua sorte outros nem por isso, mas todos com o mesmo objectivo: uma vida melhor. A verdade é que em meio de contrastes e controvérsais , o país desenvolve e sobre mais um degrau. Ao que parece muitos dos dificientes permanecem ainda perdidos e quase esquecidos no meio de muitos problemas que assolam a nossa sociedade, mas se cada um de nós fizer um esforço para ajudar, é mais um passo para melhorar suas vidas.

Enquanto isso eles permanecem de mãos estendidas à espera de um dia receberem não só uns simples trocos mas uma mão amiga.

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