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sábado, 20 de outubro de 2007

A revolução dentro da mente ou o surgimento dos pensadores


Se há algo no ser humano que realmente merece o meu fascínio é a sua capacidade de criar e levar seus semelhantes a seguirem certos conceitos, para não dizer também valores ou preconceitos, que por vezes são tão absurdos quanto idiotas.

Para começar a falar deste tema tão fascinante como polémico e atordoado que é o valor eu dou uma especial importância à Idade Média. Mas para isso tenho que recuar um pouco mais até aos inícios do pensamento.

Desde as origens do pensamento ocidental, partindo da Grécia e Roma para as nossas civilizações que uma pequena casta ou grupo composta, claro, pela minoria (a nobreza ou o sacerdócio) dominam o saber e a cultura como seus patrimónios e usam-nas como bem entenderem para manipular o povo e a história. Deste modo representam “o pastor”, para não dizer “caminho”, que guia o povo, ignorante coitado, de modo a que sigam as vontades dos “deuses”. Assim fica ao encargo dessa minoria a transmissão das revelações desses supostos “deuses” à maioria, que as recebe e limita-se a cumpri-las. Temendo as curiosidades dos mais “atrevidos” estabelecem-se pautas de valores que devem ser seguidos à risca, em que a vontade dos deuses ocultam o verdadeiro objectivo, que é o de manter a sociedade sobre controlo. Valores esses, dogmáticos na sua natureza, são os principais factores que durante séculos contribuíram fortemente para o aprisionamento da mente humana e a monotonia da mentalidade retrógrada.

Mas apesar de todos os esforços a paixão pela descoberta e a curiosidade devastadora são de longe mais fortes que as correntes de medo que as aprisionam, e assim surgiram os “pensadores”. Esses pensadores, no início ainda meio intimidados pelas repressões e pelo peso que os conceitos exerciam na sua consciência tentavam fazer as coisas sem contrariar os “princípios”, sobretudo religiosos, acabando muitas vezes por ceder às ordens das castas. Dessa forma os valores continuavam como factos que não se discutiam, porque representavam realidades entroncadas na consciência individual e colectiva.

Foi apenas pelos tempos da Idade Média que finalmente a luz da verdade veio libertá-los dessas correntes de mentiras, verdades reveladas e sobretudo do controlo a que estavam sujeitos. Depois das batalhas e quedas de impérios a Igreja teve um especial destaque na medida em que ela constituía a principal instituição que se mantinha de pé e para o povo a única tábua de salvação. Falando em especial do cristianismo é importante realçar a destruição do conceito do “homem tal como ele é” para impor o conceito do “homem tal como ele deve ser”. Nesse novo conceito, que era combatido no passado pelos filósofos, ressaltava de novo os valores que na verdade tinham mais a ver com a preparação para a vida espiritual do que para a evolução do homem como tal. Para essa vida espiritual o homem tinha na vida terrena a preparação onde devia superar a sua parte animal, que servia de dilema ao livre arbítrio, todas as suas acções, pensamentos e toda a sua vida deviam responder ao decálogo de Moisés, às Escrituras, às visões dos profetas, à inspiração mística de que unicamente se vive de verdade para sobrevivência do espírito no mundo celestial.

Instaurando o conceito do “homem tal como ele deve ser” a Igreja tinha nas mãos os conceitos de valores e também toda a sociedade a qual guiava dando “revelações” a conta-gotas, migalhas quase sempre espúrias que chegavam ao povo de forma oral, através de lendas e narrativas em linguagem vernácula. A figura que mais se destaca por esses tempos é a da Bíblia numa mão e a Espada na outra – converter.

Mas por esses tempos os factos não estavam assim tão entroncados na consciência humana então os factos que sucediam tornavam cada vez mais susceptíveis a dúvidas e a mente humana armada da curiosidade devastadora e da sede de descoberta arrebentou as correntes de dúvidas que a prendiam e andou livre batendo em todas as portas do conhecimento que lhe suscitavam, mais do que a mera curiosidade, a própria dúvida.

O Renascimento foi o ponto de partida, a revolução radical no modo de pensar e nos costumes dos povos. Foi a transição brusca e impiedosa, cheio de sacrifícios, que marcou no campo do saber e da cultura o fim de uma era marcada pela sombra da ignorância e a luz da descoberta da verdade. Começou com Leonardo Da Vinci (1452-1519) homem notável: pintor magnífico, engenheiro genial e como não dizer era um sábio. Para escapar às repressões deixou suas descobertas científicas escritas com letras cifradas, sem divulga-las. Depois dele segui Galileu (1564-1642) a abalar a teoria Geocentrista, afirmando que a Terra não era o centro do universo e por isso, por esta que é a mais pura das verdades, foi condenado a voltar atrás nas suas afirmações e todos os seus trabalhos e assim ficou até à sua morte.

Pela primeira vez na História do pensamento, o “princípio da autoridade”, da Verdade – assente em textos sagrados ou profanos, mas indiscutíveis – Aristóteles, As Escritas Sagradas, São Tomás, por exemplo – rompe-se e cai duro que dói numa proporcionalidade de longe indirecta com a dor que a levantou.

No entanto hoje o contraste mostra a perda de valores que não estando relacionados com as descobertas científicas e tecnológicas mas com a própria consciência individual e relatividade da vivência caem por terra e são esquecidos tornando o homem um ser cada vez mais banal, e como diz a minha professora de filosofia o homem de hoje é “light”

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